
É dia de outubro.
Colocaram-me sentado, como um passageiro,
sobre o que está acontecendo.
A paisagem passa por entre os furos das mãos
e venta, ardendo meus olhos.
O tempo me desgruda do espaço,
como estações que derramaram os seus trens.
Não sei o valor da passagem
pela qual fui viajado.
É um inconveniente: estou eu mesmo ao meu lado.
Mas apareci à minha frente,
conversei com almas sentidas,
li as notícias soltas dos trilhos,
fui ao banheiro e voltei perdido.
O motorista segue o movimento
por lances de objetos leiloado.
Por isso, a velocidade é uma poça,
o relógio está a desusar a hora,
e os bolsos, ao contrário, exalam gastos.
É outubro,
e ninguém sabe ler o calendário.
Mandam-me apenas calar os pés e viajar.
Sigo num trem em forma de data.
Daqui, vejo o dia que desembarca
e o outro que toma o seu lugar.
— É preciso sair quando alcançarmos o nada?
— Não. Basta apenas sobreviver à viagem — diz o cobrador —
isto é samsara: sequer partimos, e não há chegada.