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É
o
que
eu
façofalo!
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(E5)
O joelho do caju
A língua do murici
O músculo do baru
As tripas do buritiO bucho da gabiroba
A banha do jatobá
O miolo da gueroba
O rim do taperebáO sebo do bacuri
A moela da cagaita
O mocotó do pequi
A sambiquira da jacaA bexiga do licuri
Os pés da pixiriquinha
O fígado do cajuí
Os cascos da sapotinha(Am) (D)
(E5)
De couro de ciriguela
À manga cheia de artéria
O homem não passa fome
Do cerrado tudo come -
Teu rosto gasto de tanto beijar
Tua pele arranhada de carinho
O ouvido entupido com uma palavra bonita
Teu coração abatido de tanta vida
Esticado por cima do ferro-de-passarOs brinquedos sem braços
A chuva iluminada de barro
O ar embebido no cimento
Uma bola que afunda no vento
Os compromissos rasgadosTeu nome truncado de tanto soletrar
Teus lábios contundidos de afeto
A cabeça às cegas com uma emoção
Tuas mãos estatuadas de afeição
Separadas por dedos na máquina-de-lavarO papel que brota no quintal
A imagem que o espelho come
O dia imprevisto feito comprimido desengolido
Um som vertido em um barril de ouvidos
As letras que desfolham o jornalOs sapatos guardados em cima da cama
O piso escorregando quarto acima
Enquanto de outra banda
O corpo se ajeita sobre uma ferida -
(Dm9 D9 A B)
(Dm9 D9 Am)
Eu te amo, disse a máquina automática de calcular
Consciência de inventar tudo aquilo programado(C7+ G/B Am Em)
Em casa as pessoas mentalizam seus arquivos
Robôs se aproximam com seus dentes sorrindo
A televisão mostra lugares que não vamos
Os relés dançando, os motores à caminho(A5 B5 F5 E5
A5 B5 C5 G5)(Dm9 D9 Am)
Já está no mercado um coração com curto-circuito integrado
Inteligência tão natural quanto um simulador de acasos(C7+ G/B Am Em)
Na mente um sistema de lógica ordena o que se deve pensar
Um computador brinca sozinho feito criança
O celular está vivo e o seu dono já está morto
Oxigênio artificial que não dá sono(Dm9 D9 A B)
(C7+ G/B Am Em)
Alexa e Chrome se encontraram por acaso
Já que das redes sócio-neurais há tempo se desligaram
Então partiram pra um lugar longe e desabitado
— Com sorte não tem internet aqui, eles pensaram(A5 B5 F5 E5
A5 B5 C5 G5) -
desobjetamos coisas, substituímos oferenda, lasseamos tiara, desfazemos consórcio, recolhemos pesquisa, desassoamos lenço, enquadramos pneu, bordamos praga, arrancamos apoio, desinstruímos criança, molhamos carvão, distribuímos diferentementes, ficamos até chegar, embaralhamos turnos, soltamos o gatilho, antecipamos vencimentos, cortamos ovo, aleijamos espírito, apressamos idosos, abrimos túmulo, desrimamos verso, mentimos em juízo, esquecemos oração, resumimos clássicos, tapamos grito, dispersamos atenções, reescrevemos versículo, espalhamos orquestra, apontamos verruga, batizamos remédio, levamos o susto que damos, repaginamos vidas, partimos no consenso, enfeitamos desculpa, planejamos ímpeto, desvivemos intensamente, pausamos para trabalhar, rejuvelhecemos, encontramos consigo próprio, enfim, as lagartixas são maravilhosas
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(FM7/9 F#6) (FM7/9 BbM7/9)
A estrada está chamando há muitas horas
As traia já tão arrumada na boroca
Faz tempo que nós combinamo a pescaria
Demorou quase um ano mas até que enfim chegou o diaPontes e cancelas que cantam quando o carro passa
Partindo da cidade rumo à fazenda e à mata
Uma vaca cruzou a cerca e agora
Acompanha a gente até não mais dar conta
E o vô lembrou da época dos bailes
Do tempo que na roça tinha dançaNa chegada já começa a folia
Tem que arrumar logo as vara e as linha
O almoço vai sair em poucas horas
E se não pegar peixe vai ter que trata uma galinhaA água abraça o barco como se fossem dois amigos
Feito nossa parceria, de uma amizade antiga
Tudo é boa sorte e harmonia
Tem piau, tucunaré, mandi , corvina
Também o que não falta é cerveja
Já tão chamando Lagoa Bonita de Lagoa Beleza -
(Em)
Palmas preta de nuvens
Ferro de orvalho
Molho de raiosPalmas buracos de chuva
Cimento molhado
Frio ao contrário(D/E E/F#)
Chove sobre as casas
Derretendo os telhados
Chove sobre a praça
Descobrindo o asfaltoPalmas o verão cinza
Granizo líquido
Pimenta e brisaPalmas veloz neblina
Horizonte limpo
Ferrugem e alegriaChove sobre o Araguaia
Atrapalhando os carros
Chove sobre o Prata
Enfumaçando os barracos(B/A E/A)
Tempestade em brasa
Úmida paisagem
Sol que espera uma nova viagemPalmas branca de raios
Calor congelado
Vento de maioPalmas trovoada acima
Terra vermelha
Horizonte cinzaChuva sobre a cidade
inflamando o lago
Serra em tempestade
O verde encontra o cerrado -
(G6 F#m B7)
É tarde enfim
Mais uma vez a noite acabou
Só assim vamos embora
Até agora nada mudou(G Bm F#m B7)
Continuamos os mesmos bêbados fantasmas
Desequilibrados, voltando pra casa
Em grupo de três, quatro, com um ou dois carros
Tragando os últimos cigarrosÉ tarde enfim
Mais um sonho assassinado
À noite não se chora o sangue derramado(C7+ Ab° A6/9 F#m)
(Bm D)
(Em A)
Ou resolvemos voar
Ou recolhemos as asas
Contentes com o nosso lar
Quietos em nossa casaDaqui alguns minutos o dia irá nascer
As desordens do mundo já começaram a acordar
Mas você não quer nem saber
Você só quer dormir e apagarLetra: Nilson Amaral Música/Interpretação: Ricardo Carlin